Lembro do que paz sou
sonho vivido
vívidos por-de-sóis
portais escancarados
dias que desenhei meus passos
exercício ca’lendário fim.
Espaço para escrever e compartilhar nosso espanto e admiração pela vida.
Antes das casas, cascas,
paredes, rebocos, tintas,
havia uma alma nua, errante,
oh, Vladimir!
Quero dormir sobre meus pertences,
saco de molambos carregado às costas,
caracol humano que não deixa rastro.
Nas ruas de outrora, outra hora de ant’antes,
chão batido, pés desnudos de alicerces,
tendas, com tendas, panos, pós,
pés de vento.
Nossa pressão atmosférica modificava-se à medida que aquele buraco negro tragava nosso oxigênio. Um peso mórbido em nossos corpos inundava-nos de pânico, frente a um extermínio eminente. Mesmo assim, paradoxalmente, nos movíamos mais velozes, gerando o caos.
Os poucos que não foram levados aos céus, onde sumiam engolidos noutra dimensão, permaneciam em completo desespero, na angústia crucial de serem salvos. De tempo em tempo , o céu se derramava sobre o planeta, devolvendo nossas substâncias, desta feita, purificadas. Porém, isto significava que mais uma vez as franjas enrijecidas como garras tornariam a revolver o chão, pedra sobre pedra.
Isto se repetiu em vezes que pareciam infindáveis. Até que o céu começou a derramar tão somente cachoeiras de substância purificada. Nossos companheiros foram devolvidos ao nosso convívio, sãos e salvos, e a luz voltou a brilhar, límpida como nunca. Um doce murmúrio de borbulhas inundou nosso mundo, e o maná voltou a cair, paz eterna à nossa boa vontade.
Título definitivo: Limpando o aquário
Tu me chamas do fundo nas falésias
caminhos solitários
âmago de eus que aflora domingos de sol batido
no perfil das faces sombra de flor miúda
esmagada no peso do meu pé.
Dá que se abra a porta dos meus anos
e eu ad’entre mágico azul etern’idade
pele do sopro que me deste flor da pele
em cânt’aros de água pura
que aplaca todas as sedes.
Não beba eu cálice de amarguras
noite es’cura pele dos meus ossos
que me car’regam Homus erectus
ponto angular pedra do meu sangue.
Mas se quiseres digo sim
gota a gota
fel que me entranha a língua
res’suscita-me!
Faz em mim Tua pa’lavra
campos de trigo que hão de vir
eterna’mente hoje-sempre
vento que sopras vela do meu barco.
sentimentos costurados na lombada
epígrafe lavrada mármore branco
coração sangrando sangue venoso
derramando no vidro dum relógio digital.
Rastros desprendem miasmas
números espirais vermelhas
caracóis em desalinho
molas frouxas sustentam madrugada
que esparrama meus lençóis.
Dois sóis fulguram órbitas da face
iluminando longe céu escuro
horizonte que estilhaça raios laranja ácida
vertendo azul profundo
manhã que se aproxima dia dos meus olhos.
Discos sobrepostos
espinha dorsal que me sustenta
lenta melodia me desperta
porta aberta que atravesso.
Som batido implacável bip
retorna sempre dança de meus passos.
Luzes invadem janela semisserrada
em linhas pont’ilhadas
na parede do meu quarto.
Sonor’idade grafite atrito do meu lápis
grafa cinza grito vermelho
sangue arterial da noite que se foi.
puxa fardos de suor
rosto vazio de pão
cavalo sem afeição
em meio a gente que passa
multidão olhos de vidro
pele fibra sintética
bonecas de porcelana
do alto do salto agulha
costuram na carne dele.
Passa por mim e não sabe
meu coração derramado
gestos interrompidos
palavras que não direi
You’re Always on my mind
No meu MP3.
Este sol inútil de não tê-lo,
Em sua órbita própria ilumescente ,
Propriamente minha sina de invejá-lo,
Indecente.
Sinto falta de mim no chão que não pisarei,
este chão que prescinde do meu peso,
torrão que navega em sua sombra,
este espaço vasto por me não conter
a ilusão de pensá-lo encharcado de meu corpo...
Ai, e a dor inútil destas coisas todas,
ah, Fernando! A dor fingida...
A dor fingida que me dá solidez!
A cerração cerra os olhos da cidade,
fumaça fria que invade
me desce sobre os muros,
paredes, batidas, martelos
pedreiros, pássaros, castelos.
Amanhece, liberdade!
Pedreiro livre pra bater seus pregos,
egos que ecoam pelos corredores.
pássaro livre pra voar seus cantos.
Eu passaro, pedreiro, pedra.
Eu que ouço, e vejo,
e sinto, e penso.
Eu que caio e afundo. Eu mundo.
Que aborreço, estremeço, e salto,
e amarro, e danço,
e grito e bato manso,
como bate o sol na manhã
Poemiso o que já é poetizado em quadro meus sem tidos
palavras que es’correm sumo dos meus dedos
sumindo espremes o meu sangue doce
dulce viento de mi penedo meu violão viola teu silêncio
tens que pôr um ponto onde ponto não!
Quero me derramar desafivelei meus botões inox...
Mas mais embaixo tinha fecho éclair mulher porta fechada
boca escancarada negra boca zipada
et bien que miséreux avec le ventre creux nous ne cessions d'y croire
la boheme que me compadezco não me compadece miséria alheia
feias esquinas homens bêbados rasgadas mulheres violentadas
violentaids niños chupam fumaça verde pedra negraque
te rasga me rasga apedreja-me mulher adúltera
jogo cinzas me saco el pelo mulheres que choram nos funerais
quero violentar-te alma de pedra para que humana sejas
ergo sum cachorro sarnento que abana o rabo
mis manos Mercedes bens peles brilhantes carteira gorda
parteira que me pare si vil is ação puta que pariu
maré vermelha plânctons verdes algas azuis de raiva
quaresmas roxas jejum me lava a alma fome que não tenho.