sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Declaração


Lembro do que paz sou

sonho vivido

vívidos por-de-sóis

portais escancarados

dias que desenhei meus passos

exercício ca’lendário fim.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Hotel Fazenda Invernadinha - São Francisco de Paula via Gramado











Errante


Antes das casas, cascas,

paredes, rebocos, tintas,

havia uma alma nua, errante,

oh, Vladimir!

Quero dormir sobre meus pertences,

saco de molambos carregado às costas,

caracol humano que não deixa rastro.

Nas ruas de outrora, outra hora de ant’antes,

chão batido, pés desnudos de alicerces,

tendas, com tendas, panos, pós,

pés de vento.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Juízo final (título provisório)


Dia negro aquele. A grande mãe surgiu no horizonte, mas diferente de outras vezes, em que se derramava em alimento sobre nós, como maná . Estendeu uma parte de si sobre nosso habitat, mergulhando nele como que uma extensão, cuja ponta sugava porções de nossa substância. Repetidas vezes algo semelhante a franjas flexíveis, mas firmes, alcançavam o chão e revolviam-no, não ficando pedra sobre pedra. A luz turvava-se numa grande turbulência.

Nossa pressão atmosférica modificava-se à medida que aquele buraco negro tragava nosso oxigênio. Um peso mórbido em nossos corpos inundava-nos de pânico, frente a um extermínio eminente. Mesmo assim, paradoxalmente, nos movíamos mais velozes, gerando o caos.

Os poucos que não foram levados aos céus, onde sumiam engolidos noutra dimensão, permaneciam em completo desespero, na angústia crucial de serem salvos. De tempo em tempo , o céu se derramava sobre o planeta, devolvendo nossas substâncias, desta feita, purificadas. Porém, isto significava que mais uma vez as franjas enrijecidas como garras tornariam a revolver o chão, pedra sobre pedra.

Isto se repetiu em vezes que pareciam infindáveis. Até que o céu começou a derramar tão somente cachoeiras de substância purificada. Nossos companheiros foram devolvidos ao nosso convívio, sãos e salvos, e a luz voltou a brilhar, límpida como nunca. Um doce murmúrio de borbulhas inundou nosso mundo, e o maná voltou a cair, paz eterna à nossa boa vontade.

Título definitivo: Limpando o aquário

Oração da manhã


Concede-me o silêncio
de mim mesma
para que me semeie teu grão
espiga madura
pão nosso de cada dia.

Se me desatem pé e mão
para colher a dor alheia
ao meu umbigo
e sejam os meus olhos
poças de gratidão.

E meus ouvidos sorvam
sopro do Teu Espírito
águas que se movem
viscerais rios
apelos que Te alcançam
no fundo do meu c’oração.

Sono rem


Des’ligo fio afio o pensamento.

Quando adormece o corpo

É a alma que desperta

Sim fonia de cães na madrugada.

Durmo profunda mente

e sonhos brotam nasced’ouro rio

escuros abissais Netuno deus.

Tridente morde carne fria

ego fagocitose

centro dos meus ais.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

poeminha dor’mente



Uma porta que se fecha e que aquieta

outra porta que desperta para dentro.

Dobradiça de portões que ao som da brisa

espreguiça da tua alma a sombra esguia.

Dorme doce’mente à luz da lua

que a palavra lenta’mente silencia.

Amanhã?

Será outra língua...

domingo, 7 de agosto de 2011

Cântico


Tu me chamas do fundo nas falésias

caminhos solitários

âmago de eus que aflora domingos de sol batido

no perfil das faces sombra de flor miúda

esmagada no peso do meu pé.

Dá que se abra a porta dos meus anos

e eu ad’entre mágico azul etern’idade

pele do sopro que me deste flor da pele

em cânt’aros de água pura

que aplaca todas as sedes.

Não beba eu cálice de amarguras

noite es’cura pele dos meus ossos

que me car’regam Homus erectus

ponto angular pedra do meu sangue.

Mas se quiseres digo sim

gota a gota

fel que me entranha a língua

res’suscita-me!

Faz em mim Tua pa’lavra

campos de trigo que hão de vir

eterna’mente hoje-sempre

vento que sopras vela do meu barco.

Roca


Não vou despir minha cama

de mim mesma

tenho pena dela...

vazia do meu corpo.

Lençóis lenços amarrotados

pele morna ainda

cincoenta por cento algo’dão

e outra metade

sintético tecido à mão.

Coffea arábica


Tomo café

negros que adentram minha sala

casarão de antes

e rio riso branco todas as cores

Bendictus santo que me santifica

pérola negra rola nestas veias.

Pássaro azul


Cobrirei o branco nesta folha

com pássaros verdes

planeta azul ave dianteira

maior de todas que aqui habitam

Terra!

Órbitas de abraços nimbos

órbitas de abismos rumos

traçam húmus sobre mim

terra negra que me cobrirá.

Desperta dor


Desato o livro folha a folha

sentimentos costurados na lombada

epígrafe lavrada mármore branco

coração sangrando sangue venoso

derramando no vidro dum relógio digital.

Rastros desprendem miasmas

números espirais vermelhas

caracóis em desalinho

molas frouxas sustentam madrugada

que esparrama meus lençóis.

Dois sóis fulguram órbitas da face

iluminando longe céu escuro

horizonte que estilhaça raios laranja ácida

vertendo azul profundo

manhã que se aproxima dia dos meus olhos.

Discos sobrepostos

espinha dorsal que me sustenta

lenta melodia me desperta

porta aberta que atravesso.

Som batido implacável bip

retorna sempre dança de meus passos.

Luzes invadem janela semisserrada

em linhas pont’ilhadas

na parede do meu quarto.

Sonor’idade grafite atrito do meu lápis

grafa cinza grito vermelho

sangue arterial da noite que se foi.

Meia-luz


Meu corpo morno de vida

reclama ser cingido

beijos cinzelados

selos de desejos postos em mim.

Madrugada aberta

desperto no sussurro de lembrar-te.

Meia lua quarto crescente

meias-luzes vão naufragar-te.

Meias de seda flutuam

sapatos emborcados barcos tristes

quarto minguante quando vais embora.

Descompasso II









O carroceiro de papelão

puxa fardos de suor

rosto vazio de pão

cavalo sem afeição

em meio a gente que passa

multidão olhos de vidro

pele fibra sintética

bonecas de porcelana

do alto do salto agulha

costuram na carne dele.

Passa por mim e não sabe

meu coração derramado

gestos interrompidos

palavras que não direi

You’re Always on my mind

No meu MP3.

Descompasso I












Fótons bipolares estilhaçam

minha lâmpada de 60 wattes.

Derramai com portas termo elétricas

nos meus gestos frios

vida urbana que me carregue!

Fim dando verão








O vento morno voa folhas amarelas

nos meus pés atrasados pra novena.

Pessoa


Este sol inútil de não tê-lo,

Em sua órbita própria ilumescente ,

Propriamente minha sina de invejá-lo,

Indecente.

Sinto falta de mim no chão que não pisarei,

este chão que prescinde do meu peso,

torrão que navega em sua sombra,

este espaço vasto por me não conter

a ilusão de pensá-lo encharcado de meu corpo...

Ai, e a dor inútil destas coisas todas,

ah, Fernando! A dor fingida...

A dor fingida que me dá solidez!


Ainda que eu ande pelos prados verdejantes,

Mostra-me o caminho escuro e seco

Dos esquecidos.

Aqui jazz


Teu nome na lápide

ergue um espectro

dos meus dias de sol.

Mas um espectro é cinza

e sombra e rastro.

Por isto cristalizo em sal

minha saudade.

Verde paz


Desço do alto da pre’tensão de fazer versos

para o lago profundo do anonim’ato.

Mato al’gemas vivas

nos meus pulsos que pull’são.

Eco’lógico que penso

mas me derr’amo

na lucidez dos sons.

Outra língua










De zen cá de ando

de zen cá de hei

m’eu pro fundo riu.

De zen laça õ da

da tu há pro funda

pré é é se e...

M’ais par é seu má

me nina que a noi ‘

tece e se de rã

maná colina ah...

sábado, 6 de agosto de 2011

Construção









A cerração cerra os olhos da cidade,

fumaça fria que invade

me desce sobre os muros,

paredes, batidas, martelos

pedreiros, pássaros, castelos.

Amanhece, liberdade!

Pedreiro livre pra bater seus pregos,

egos que ecoam pelos corredores.

pássaro livre pra voar seus cantos.

Eu passaro, pedreiro, pedra.

Eu que ouço, e vejo,

e sinto, e penso.

Eu que caio e afundo. Eu mundo.

Que aborreço, estremeço, e salto,

e amarro, e danço,

e grito e bato manso,

como bate o sol na manhã

do inverno que me bate à pele.

Faz só lá sea


Claves de sol navegam em seus barcos

de cinco linhas pautas chaveadas

compassos de um coração solitário.

Maestro de todos os meus poros

não sou metades

uma que adormece outra que desperta

uma que agoniza outra que renasce

mas inteiramente melodia do teu abraço.

História curta



Foi atropelada na sinaleira, e os peixinhos saltaram de sua bolsa para o asfalto, morrendo junto com ela.

Substância


Vejo a luz filtrada na vastidão
aos poucos se fazendo escuro.
É o muro da pele que me encobre.
Sólida só lida solidão.
Sou um corpo de luz sólida.
Chama inteira, labaredas em janelas,
Células, libélula, gavinha.
Poros de um sopro, celas de alguns sonhos,
favos do teu mel, casulos do teu cetim
em mim.
Corpúsculo, minúsculo grão,
clarão de pó.
Crepúsculo, partícula ridícula, só.

Minha amiga Gislaine...46 anos sem nos vermos!

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Cerejeira em flor - Nova Petrópolis - RS - julho 2011

Pelas calçadas


Caminho túneis verdes

me aninho ninho de luz da manhã

sonolenta ainda me despertas verde híbrido

casacos de lã

alamandas despidas do amarelo.

Sol rend’ilhado no tricô das mantas

ônibus perdidos mulheres tristes

luzes que apagam em postes solitários

manhã que surge cor’dão de pedra nas calçadas.

Canal fechado


Bebo em teus cá’lidos dedos
Sons de cítaras
chocolate quente
xícaras de chá limão
que me embebedam.
Gotas de cristal de plasma
na frente da te vê.

Brique

Poema Inquietante










Poemiso o que já é poetizado em quadro meus sem tidos

palavras que es’correm sumo dos meus dedos

sumindo espremes o meu sangue doce

dulce viento de mi penedo meu violão viola teu silêncio

tens que pôr um ponto onde ponto não!

Quero me derramar desafivelei meus botões inox...

Mas mais embaixo tinha fecho éclair mulher porta fechada

boca escancarada negra boca zipada

et bien que miséreux avec le ventre creux nous ne cessions d'y croire

la boheme que me compadezco não me compadece miséria alheia

feias esquinas homens bêbados rasgadas mulheres violentadas

violentaids niños chupam fumaça verde pedra negraque

te rasga me rasga apedreja-me mulher adúltera

jogo cinzas me saco el pelo mulheres que choram nos funerais

quero violentar-te alma de pedra para que humana sejas

ergo sum cachorro sarnento que abana o rabo

mis manos Mercedes bens peles brilhantes carteira gorda

parteira que me pare si vil is ação puta que pariu

maré vermelha plânctons verdes algas azuis de raiva

quaresmas roxas jejum me lava a alma fome que não tenho.