quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Candy



Rolam nos teus 40 e poucos 40 e muitos sobressaltos. Amas a vida e o outro, e queres te admirar nele, espelho teu. Mas muitas vezes o espelho é vazio, como sem alma fosses, e o medo te encobre o riso e o frescor da meninice que ainda te perfuma os sonhos. Medo. Medo. Medo. Ah, sonhos! Quando ainda eram reais... Quando o amor era límpido e inequívoco...

Mas na pedra havia um caminho e entraste nele.

Rola, doce criança, em 40 e poucas esperanças que contigo teimam em brotar e te embalar.
Rola pedra de um tempo que passou. Rock and roll Rap da ação que te move os dias, doces candices...

(para minha amiga Candice, doce, gentil, agitada pelas águas que se movem e a tudo embalam. Não temas, que viver é uma a’ventura admirável!)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Gênesis



A vida é um direito, que não procede de nenhum mortal.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Psico súplica


Livrai-me das neuroses,
e também (principalmente) das psicoses,
que me dividem em dois
- corpo e alma -
duas paralelas que nunca se encontram!

Figura e fundo



O sopro divino é o silêncio de nós mesmos.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Sem Deus



Dispensei Deus por alguns dias.
Nas múltiplas vias que encontrei
Perdi-me sempre em laboriosas buscas.
-Espera, Deus, preciso achar meus tesouros,
não posso ir a ti assim tão pobre!
Perdi a fé, meu ouro maior,
E o que é pior,
Perdi-me nesta incerteza.
Aguarda, meu Deus, um pouco,
Que este espírito louco
Reencontre a lucidez.
Se nesta insensatez
Eu me acabar
Não terei quem culpar
Quem chorar,
Estarei só.
Deixa-me pensar por algum tempo
Que posso viver sem crer
Que não necessito ser eterna.
Deixa-me sorver o licor amargo
De minha verdadeira e única solidão.
Se embriagar-me até cair,
Como será triste!
Não terei nem ao menos o direito de clamar:
- Deus, ó Deus, por que me abandonaste?

Objetivando



Objetivo.
Subjetivo.
Mistério da santíssima ambigüidade,
um só existe através do outro.
Ambos individuais,
mas somente quando num todo.
Existe uma só coisa,
isto é: ambos!
E ainda uma terceira,
o mistério da santíssima trindade.
Objetivo, subjetivo,
realidade única.
Eu fora de mim,
eu dentro de mim,
eu acima de todas as coisas.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Segredo




A luz no fim do túnel é um buraco de fechadura, cuja chave sou eu.

Pensar, eis a questão...



Somos responsáveis pelos nossos atos, mas também o somos pelos nossos pensamentos. Não podemos impedir o nascimento espontâneo deles. Mas não justifica deixarmo-nos levar por eles. Podemos dar-lhes direção, impedir que nos escravizem, nos danifiquem, nos ceguem, se apossem de nossa alma. Não somos só um cérebro.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Segunda-feira


Sinto na carne a gastura da rotina
em cada dobra ruga e dia
velha moça me’nina,
onde o limite?
A roda do tempo esmigalha
a paciência a calma a ternura.
No cinza da cidade o suor
o pão a calamidade
o grande teste de sanidade
onde quem passa é herói.
Nada permanece retém detém,
onde o repouso?
Cá estou eu estou despida de Deus
jogada nesta Terrice
numa mesmice de dias.
Na pele o ver’me, no sangue o micróbio
na carne o gérmen da esperança
do futuro do infinito...
Que bonito!
Mas vem a roda do fogoso corcel,
o silvo do guarda na sinaleira,
é segunda-feira.
Rói o rato a roupa do rei
a’corda a fibra do coração
o descanso o repouso corrói,
ai, como dói!

Em gestação



Um dia rompo a casca.
Enquanto isto
Deixa-me ser feto enrodilhado,
Serpente num ninho de veias.
Deixa-me parasitar,
Filtrar nos poros sem nenhum esforço.
Deixa-me vegetar sem culpa
Medrar sem medo
Absorver a última gota,
A que me tornará insuportável!
Insuportavelmente igual ao hospedeiro.
Então serei expulsa
Quebrarei a casca
Rasgarei o véu.
Só então terei que agir
Partir
Lutar.
Não me peças para nascer antes!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Homo sapiens

As vozes noturnas me falam
que sou única
a espreitar na janela dos mundos.
O grilo corta a vidraça
com seu grito trans’lúcido,
as avencas pesam,
as samambaias pendem sob o corpo da noite,
as laranjeiras dormem,
as bananeiras sussurram contra o muro.
As plantas todas se recolhem
à consciência de raízes, só.
Dentro do meu quarto,
quatro paredes de um útero inerte,
indago até onde viajará o som,
onde será sua morada?

Árvore da vida



Nasceu assim
sem que eu visse a semeadura,
brotou de insuspeitado vigor
e fez-se flor,
enchendo as valas,
cobrindo os montes.
Embebeu-se no meu plasma,
criou raízes,
desfolhou pétalas carnudas
no meu solo ressequido
e me fiz fértil.
Acreditei no impossível
de refletir luz própria,
emprenhei,
frutifiquei.
Ah, inferno de ser dona de mim!
Onde o pecado que me esconde,
onde o escudo da culpa?
Às escuras,
nas trevas do meu sono
alguém sulcou a terra e
semeou o grão.
Hoje é grito despudorado
explodindo em ramos coloridos,
me dizendo
eu posso!

Semanal mente



Cuidado!
Hoje é segunda-feira,
e amanhã já é sexta,
que com a terça, a quarta e a quinta,
amarrotamos e jogamos na gaveta.
O sábado e o domingo
cuidamos para que durmam confortavelmente,
se entupam de guloseimas
e se escoem silenciosamente
pelo fantástico show da vida.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Racional


Razões me afastam de mim mesma.

Fidelidade é a medida

no entanto mistifico.

Navego entre tamanho e sem tamanho,

naufrago na ilha da discórdia.

Quem sabe um dia o mar invade,

salgado e redentor,

quem sabe um dia

inunda este torrão,

molhando a face,

abrindo outros caminhos...

Nexus



sinto comam réplica

verde replica. Sons

doces roliços naus navegam

navegantes gritos sumérios

Agitam naus se enforcam

vomitam

(quantos?)

métricos vãos sãos tão cão

Morde lábios.

Seja: cântaros

sândalos, flui.

Mesopotâmia nossa

era era era.

Ano sobra dia abunda

Riste triste. Ah

Querelas aquarelas pálidas

palhiças tu...

Sou todo vidros redondo,

Causas partes

Hirto som.

Ai quimera

ah que mera merda vão!

Purgatório



Nem a bomba H

destruirá meu coração

mais que esta saudade!



E esta saudade mesma,

nem sei se é máscara

neste baile à fantasia,

alimento para dores mais antigas,

sepultadas no limbo da consciência,

cais de um nada sei

se não águas onde nadam os meus ais...

Esquadro



Quando anoitece

desço fundo

no dia submerso

do meu eu.

Primeiro tenho que me encontrar

para poder me entender

e então me contornar

toda lua,

como círculo para compasso!

Chuleado




Após~trofe~estrofe~des~atrofia e fia outros sem~tidos escond~idos~aglutinados deglu~tidos vis~ceral~mente sem mastigar~nem~digerir veste  ident~idade des~gastada  inter~rompida uso~maquinal~rotina cor~aglutina  desaglu~tino com vós~ou~sem~voz oh vírgulas acima~abaixo~do~lado~e~no~meio costura~e~desmembra deixando por um~fio gotas~gráficas fazem rio~oceano vice versa desdobra multiplica sentidos o~cultos  sutil~mente c~oração mais que advérbio marca~passo vida~prece~floresce~verbo~oculto nu~a alma que é sempre muito m~ais...