A vida, comprimida numa cápsula,
não pode ser engolida inteira,
tem de ser mastigada,
digerida aos poucos
em porções de dias,
meses,
anos,
segundo a garganta de cada um.
Não sei do último copo,
nem sabes do último quinhão.
A vida vem de pouco a pouco
e, de repente,
pode ser no próximo segundo,
engole-se o fim.
Ai de mim que observo inocente
o desfile dessas minúsculas coisas,
mesquinharias do dia-a-dia,
do passo-a-passo
que me tornam velha.
O abraço mortal do tempo
que me estrangula
a gula de viver.