terça-feira, 25 de julho de 2023

Sobre o indizível ato de falar...

domingo, 28 de outubro de 2012

Me adiciona no teu MSN (de novo!)















Capítulo I - do envio da última mensagem

Meu caríssimo Z,

Envio este link pra ti. Confio que a tua gentileza seja maior do que algum rancor, ou lembrança negativa da minha pessoa, e te disponhas a linkar e ler o conteúdo. Se envio em forma de link e não de forma direta, é porque estou respeitando teu espaço de não querer fazê-lo. Chega de invasão. Não sou nenhuma sem-terra, pelo menos não tenho a intenção.  Não vou invadir teu coração, porque sou como o pampa gaúcho, que Orelhano canta: "sem sentir a marca quente nem o peso do buçal (...) livre de aramado, soprado pelo Minuano" (...) e  o laço enrodilhado, à espera da ocasião"... (linguajar em homenagem ao teu contínuo estado de ser gauchês...)

Se temes que isto seja algum vírus pra rebentar o teu sistema, podes linkar em outro endereço, inclusive no "tio Guga", buscando meu blog. Mas ir até lá, acredito, te trará momentos de descontração e humor, e, talvez, isto te leve a rir de tudo e esquecer qualquer sombra de desconfiança com minha pessoa. Mas está lá, e podes pensar um pouco antes de deletar este email com o link, sem ler. Não sei porque me importa tanto isto, mas me importa.

É um conto que escrevi em homenagem a este oceano global de comunicação virtual em que estamos mergulhando. Despretensioso, mas que fala desta coisa relâmpago que passou, pelo menos na minha vida. Despretensioso, porque não tenho a intenção de que venhas me procurar, ou que me adiciones mesmo no teu MSN, de novo... ou não importa se tenho. Mesmo porque fui eu que te deletei... num impulso maldito de ter a primazia de um possível fora, que me parecia de contínuo estar à mercê.

O conto também é uma forma delicada, leve e romântica de falar literariamente sobre as transformações que sofremos em todo o contato humano, até mesmo na forma virtual. Te encontrar foi muito importante pra mim, no âmbito da minha pretensão de recomeçar uma vida de relação amorosa, depois de duas relações conjugais, de mais de 40 anos ambas juntas, e mais um tanto menos de anos sozinha. Mesmo sendo apenas uma amizade entre um homem e uma mulher, coisa que na minha infância e adolescência, tempo esperado para que isto acontecesse, não aconteceu.  Entretanto, tenho agora o privilégio de viver neste tempo, que me proporciona tantas oportunidades lindas. De qualquer forma, se leres, ou não, agradeço pelo que de bom me fizeste, mesmo que talvez sem saber. Achei que merecias saber.

Té a próxima...por aí, se assim for.

Capítulo II - do site de relacionamento ao MSN

Caro Z,

Foi uma aventura entrar naquele site de relacionamento. Quando falei pra minha filha, falei em BEDOIS. Minha filha exclamou, um tanto baixinho, meio rindo e sem querer humilhar:
- não é BEDOIS, mãe! É BETWO! BITWO! Seja dois! Tipo assim, pra estimular uma busca de companhia, entende?

Entendi. Mas daí, resolvi entrar no POF, também! Me parecia mais cheio de humor. Como uma bolha de sabão que rebenta, se não dá certo, ou se esbarra no obstáculo de uma concretude. Ou como um soco na cara, se tu se ferra na busca...

Vai daí, que te encontrei lá. Perfil descolado, charmosão, e, pasmem, sabia escrever e resumir o que queria! Depois de ralar pelo site, encontrar muita vulgaridade, baixo QI, recados pornográficos, ou intenções desbragadamente explícitas, só pude saltar, quando te encontrei: É este!

Recados do site para mim:

1 - Z quer conhecer você! Clique abaixo para ver o perfil de Z:

"Procuro alguém para curtir e viver grandes emoções, dentro de uma relação de respeito, sinceridade e acima de tudo fidelidade. Se ambos têm a cabeça aberta, o espírito livre, o sentimento de comprometimento e sabem preservar cada um o seu espaço, viver em casas separadas é uma opção a ser bem avaliada.


Fotografia, passeios, praia, cavalgar, curtir o por do sol, a natureza e qualquer lugar onde dois amantes tornem este local mágico.

Busco uma companheira que queira compartilhar todos os bons momentos da vida nesta idade, que seja carinhosa, livre, divertida, goste e tenha uma boa pegada e espirito jovem e solto."
Wow, Wou, Wou!!!! Principalmente quanto ao  "que seja carinhosa, livre, divertida, goste e tenha uma boa pegada e espirito jovem e solto."
Pisquei pra ti, nas opções de contato no site e respondeste.  Respondi, em réplicas e tréplicas, que felizmente, pra mim,  desembocaram no MSN. Aí começou a saga da doidivanas virtual...

Recados do site pra mim:

2 - Dia 15/08 - Z adicionou você na lista de favoritos dele (a), em 2012-08-15 às 06:44:07 PM (PST)!

Uebaaaaaa!
Pensei: bom se não marcar presença... com a jamanta de candidatas, mais jovens, lindas, espertas, que devem ter chovido lá pra ele... não tenho vez! Simples, assim. Melhor, simplório! Marinheira de primeira viagem. Claro que por trás disto já estava lá esta coisa tão boba de se sentir na insegurança. Afinal, pra que será que a gente quer se sentir seguro, pra em seguida enjoar disto? A emoção da vida não está muito em ser trapezista, em dar um pulo no escuro?

Mas acho que embora viver não seja exatamente um circo, e o que ninguém nunca deseje  ser é palhaço, mesmo na emoção do trapézio, precisa existir segurança, confiança pra se jogar. E isto brota de trabalho e de caminho construído. Isto é, coisa ao vivo, amarrada a um certo tempo de convívio. Nunca vai brotar apenas de coisas virtuais... nuncaaaaa!

Mas eu não sabia disto, assim, em carne e osso da forma virtual. Vai que é tudo tão moderno, que eu preciso atualizar meus conceitos? Para teres uma idéia do nosso percurso, tive o cuidado de registar no word algumas passagens, alguns momentos:

Tua mensagem, em e-mail, pra mim:

Dia 15/08 - Oie K.
"Não sei se ao abrires este sera de manhã, a tarde ou a noite.
Isto não é importante ,o fundamental é que vc já esta adicionada no Msn, para podermos falar, se assim o desejar. Agradeço a gentileza e a confiança de enviar teu email.
Fico no aguardo de seu contato, confirmação no Msn ou pelo site. Temos afinidades, além de uma série de compatibilidades, o que torna o contato bastante interessnte.
Agradeço pelo carinho do trevo e gostei muito de sua maneira, escrevendo, compondo ou montada na tordilha esta uma prenda de tirar o folego.
Um beijo a vc e aguardo
Z"

Uaushuahsuaushaushaushaushaushshaushaaaaaaa!!!!.........

Depois disto, pra mim (já um tanto exagerado tempo depois),  tivemos nossa primeira comunicação, pela chamada de vídeo, no MSN. Ameeeei! Fui dormir feliz, com as veias pulsando. Será verdade? Tanta simplicidade e espontaneidade me levavam às nuvens. Conversar sobre comida, sobre o dia, sobre os afazeres, falar sobre abobrinhas, vinhos, filhos, berinjelas... era o must! Mantinha todo o encanto de uma excitação secreta. Talvez à moda antiga, mas que me é muito cara.

Mas o próximo contato ficou sem demarcação. Isto me criou já um desconforto. Bom, será que uma pessoa que está interessada em outra, num site, fica assim, esperando mais de uma semana pra se comunicar de novo? Será que não foi algo comigo?

Mas na terça-feira seguinte, tu estavas lá, ooooonnnnn! Muito mais legal do que qualquer outro ON, até mesmo do que o OMMMMMM da meditação. Porque este unifica o universo fraternal indiscriminado, numa mesma vibração, mas aquele tava unificando a minha identidade, debutando neste mundo virtual, numa mesma wibe.   Me senti de repente num  salto XV!

De novo, entretanto, o próximo contato ficou à revelia do acaso. No me gustó... Desta forma, achei por bem que então eu DEVIA marcar presença, se quisesse levar adiante nossos contatos. E isto me foi muito gostoso, porque procurar coisas lindas, textos, poesias, músicas, era uma diversão por demais emocionante. Era como brincar de ser criança, de certa forma. E acordar nossa criança nos rejuvenesce e nos empolga demais. Mas há um risco um tanto sério nisto... de ser engolido pela bolha antropofágico-antropológica da imaginação. Depois, naturalmente minha bolha se espatifou, em contato com a aspereza da realidade. Anda bem, porque as que não se rompem, precisam de intervenção psiquiátrica.

Uma das verdades existenciais bem verdadeiras, com o perdão da redundância, é que nos é impossível ignorar que somos conscientes de sermos conscientes. Não adianta culpar o destino, porque no fundo não nos convence. Eu sabia que tava torta aquela forma de se envolver. Me dava uma sensação de perseguição à tua pessoa. De coisa descabida, inadequada. Mas me fazia de sonsa. É que é tão difícil a gente se envolver neste mundo oco!

Falava com minha filha e ela dizia, pelo telefone:

- mãe, tu vai espantar o homem! Dá espaço pra ele! Eles não gostam disto, querem sempre ter a iniciativa.

Mas eu achava isto tão antigo...

Alguns dias depois, resolveste me ligar. Logo depois do meio dia. Dei puloooos! Era uma criança, que via de repente Papai Noel, de verdade! Naquele dia mesmo, de noite, na minha casa, peguei o gancho da tua ligação e te liguei. Te convidei pra comer uma salada na minha casa. E aceitaste! Fiquei pasma. E vieste. E ficamos 3 horas consecutivas vendo pane no meu computador, vendo meus foto livros, tuas fotos lindas no skydrive. Foste perfeito cavalheiro, gentil, educado, comedido. Sem ultrapassar. Mas no fundo, até meio que desejava e até esperava que algo fosse ultrapassado. Mas não seria eu a fazer isto...

Depois disto, no entanto, sumiste por 10 diaaaaaas!!!! Te mandei um torpedo com uma frase no dia seguinte: "Bom findi pra ti. Bju" Não respondeste. Fiquei por demais ansiosa. Mas me voltei para o virtual, que afinal era o único caminho que me restava.

Capítulo III - links e recados OFF, e FACE, e e-mails, e SKYDRIVE...

Depois de enviar algumas músicas menos expressivas, e alguns recadinhos em off, sem obter respostas,  te enviei um link da Vanessa Mae.

Em seguidinha me respondeste, agradecendo o show de espetáculo que eu tinha te enviado. Bom, finalmente tinha alcançado um pouco das tuas preferências, ou simplesmente do teu gosto musical, ainda que parcial.

Cada vez que vasculhava o Youtube, me fascinava com descobertas lindas de músicas onde algumas nunca tinha tido a felicidade de ouvir. Outras,  tinha o prazer enorme de voltar a escutar e me deliciar com a harmonia das melodias, clássicas ou clássicos populares, coisa que me trazia de volta um tempo onde eu sonhava e me extasiava com a arte simples de ouvir uma música e dançar, e alçar altos voos. Minha formação musical de infância desabrochava, escapulia de um baú lacrado à ferrugem. Era como estar ressuscitando.

Encontrei, desta feita, uma música esplêndida, na doçura do francês que sempre me encantou, ainda do ginásio, mas que nunca estudei a fundo, pela falta de utilidade no mercado de trabalho.  Tomada pelo encanto da pronúncia sussurrada, escutei de novo, e de novo, e de novo... e te mandei:

Belle, the original cast(Garou, Daniel, Patric)

Depois encontrei uma, em espanhol que adoro, da mesma forma, o som doce das palavras. Mas esta não quis enviar, porque me soava como um hino aos meus sonhos. Ainda restava um pouco de bom senso, pra perceber que afinal não era a tua pessoa que tanto me encantava, mas a situação. Sair da bolha e entrar na bolha era uma constante naqueles dias. Como se tivesse uma portinha mágica, que só eu tivesse a chave.

Na letra dizia tudo o que eu mais gostaria de representar para um homem, mas achava por demais impossível. Eu que de fato conhecera todas as guerras, da vida e do amor (quase todas) e que sentira que tudo podia mesmo ser destroçado, porque como num  sopro eu voltava a recriar, como se nada, como se nada...Guardei pra meu enlevo particular, embora pensando em ti... Mas agora te revelo. Porque já não importa, e já nem tem a mesma força, na tua direção, porque foi depois da exclusão. Depois de Cristo.

Y yo que hasta ayer solo fuí un holgazán
Y hoy soy el guardián de sus sueños de amor
La quiero a morir

Podeís destrozar todo aquello que veís
Porque ella de un soplo lo vuelve a crear
Como si nada, como si nada
La quiero a morir

Ella borra las horas de cada reloj
Me enseña a pintar transparente el dolor
Con su sonrisa
Y levanta una torre desde el cielo hasta aquí
Y me cose unas alas y me ayuda a subir
A toda prisa, a toda prisa
La quiero a morir

Conoce bien cada guerra
Cada herida, cada sed
Conoce bien cada guerra
De la vida y del amor también

Me dibuja un paisaje y me lo hace vivir
En un bosque de lápices se apodera de mí
La quiero a morlr

Y me atrapa en un lazo que no aprieta jamás
Como un hilo de seda que no puedo soltar
No quiero soltar, no quiero soltar
La quiero a morir

Cuando trepo a sus ojos me enfrento al mar
Dos espejos de agua encerrada en cristal
La quiero a morir
Solo puedo sentarme, solo puedo charlar
solo puedo enredarme, solo puedo aceptar
Ser sólo suyo, sólo suyo
La quiero a morir

Escuta, agora:

http://www.youtube.com/watch?v=n3jt-p8aswM&feature=fvst - FRANCIS CABREL - LA QUIERO A MORIR(AUDIO ORIGINAL REMASTERIZADO)(APLAUSO)(HQ)

E, finalmente encontrei duas músicas que diziam de toda a minha indignação com a tua indiferença e falta de respostas às minhas mensagens, mas também não enviei. Porque achei, principalmente a última,  muito fodaaaa!

Escuta, porque agora dou muita risada... porque é melhor rir de si mesmo do que dos outros...

http://www.youtube.com/watch?v=iydqURMhUGk - quero sempre mais Pitty e Ira

Há pouco tempo, mesmo depois de te ter deletado e excluído dos meus contatos virtuais,  encontrei uma que me falou de ti, como se a tivesses pessoalmente cantando pra mim. Olha só, ou melhor, ouve:

http://www.youtube.com/watch?v=WGlpgoDKzmk - Lo que más te gustó de mí - Enrique Bunbury

Enviei, ainda posteriormente,  trocentas mensagens em off ou on, já nem  me importava mais a situação, expondo sem pudor minha ridiculeza ingênua...

Mas tu foste escorregando...escorregando... até sumir. E teve o final que teve, que bem sabes. Aquele vídeo que te enviei, acabando o que nem sequer tinha começado. Porque acabar primeiro é sempre mais seguro, ainda que precipitado. Ser rejeitado dói demais. Ninguém merece. Mesmo que isto provenha só da cabeça da gente.

A mim me parece que existe uma linha tênue entre o ser livre numa relação e a indiferença, porque facilmente isto se transforma em desprezo, em qualquer dimensão de relacionamento. Morar em casas separadas, como propunhas lá no site, pra mim, pode significar duas coisas distintas: morar separado se refere apenas a um espaço físico, e nada tem de problema. Mas viver separado é diferente. Se refere a um espaço afetivo, necessário de ser compartilhado, para o futuro de uma vida a dois saudável. E daí...que não quis pagar pra ver.

Capítulo IV - dos diálogos finais no MSN

Tu - (dia seguinte a gente se encontrar ao vivo), na janelinha do Compartilhar, no MSN:

"Um brilho nos olhos certamente encanta o olhar, mas uma personalidade interessante encanta o coração..."

Putz, quase que nem vi isto. Seria um recado? E se fosse, seria pra mim?

Bom, de qualquer modo, me era melhor pensar que sim. E então...

Eu - em OFF, pra mim mesma, somente:  Uhuuuuu!

Depois disto, vários dias de sumiço teu, postaste algo  sobre comercial de android... Já estava enjoada de ler aquilo, tanto no face, quanto na janelinha do MSN. De repente...

Tu - De que valem olhos lindos, se quando os lábios se encontram eles se fecham? (mais ou menos isto, porque aí ainda não me tinha ocorrido a idéia de "copiar-colar"...

Eu - em OFF, mas deixando o recado pra ti, diretamente - Beijar de olhos abertos é o must!

Depois disto, silêncio e OFF total por alguns dias... De repente...na janelinha do compartilhar, no MSN:

Tu - Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água, neste momento perceba: existe algo mágico entre os dois.

De imediato, no OFF do MSN, direto pra ti:

Eu - Para ser sincera, a única coisa que percebo, depois disto tudo, é que estou cansada de beijar o travesseiro...

Sem novidades por poucos dias...

Decepcionada com a falta de resposta imediata... na janela do MSN:

Eu - Tese, antítese, síntese - dialética filosófica. Encantar-se, desencantar-se, real’izar-se - dialética do viver.

Depois de 3 dias... sem resposta, eu, ainda, na janelinha do MSN:

Si j’avais des ailes comme l’oiseau {bis
Ça serait bon, ça serait beau
Mais je pourrais tomber
Et sur le rocher
Et casser le nez.

Música de trocentos anos, da minha adolescência... Depois disto, em OFF, diretamente pra mim:

Tu - Oie Bom dia. Estava a responder a mensagem recebida, quando a internet que nunca cai, caiu. Pensando sobre o colocado, encontrei da mesma forma  as palavras que poderiam retornar em uma forma figurada e metafórica de também explicar o mesmo. Este texto irá em duas ou três partes:
Ainda tu -  Ao propor  uma tese, e expor ideias  opostas, e no dialogo contrapondo  com ênfase em argumentos, também sinto no travesseiro, abraçado, beijando e afagando, vejo que o teu    encantar, desencantar é na realidade do viver a busca dos ângulos da vida,
Ainda tu - caminhos paralelos em momentos perpendiculares,  extensões  graduais por retas desconhecidas, no encontro das   um momento mágico. Complementando: Alce voos e alcance horizontes, os pássaros só caem sobre rochas quando abatidos ou extremamente doentes e não puderam pousar. São momentos raros a magia esta chegar as alturas.

Depois de rir muuuito do estrafego das tuas palavras, fiquei preocupada. Liguei pra minha amiga e perguntei: "Será que destrambelhei a criatura?"
Daí ficamos ambos On.

Z diz -oie boa noite tudolegal com todo este temporal...
K diz - oi, , sim, cheguei há pouco
Z diz - muita chuva, vento nesta terra
K diz - pois é, mas ainda bem que o frio não voltou
Z diz - Bom para as barragens, agricultura, pastagens e limpar a ´poluição.
K diz - siiiiim! sempre bom ver o lado bom das coisas
Z diz - frio so depois da parada da chuva na 4a feira, mas mesmo assim só a noite
K diz - sim, puxar um cobertorzinho apenas, de dia andar de sandalinha é bom
apesar deu adorar botas, unica coisa que aprecio no inverno, além do aconchego inicial
mas depois, enjoa
Z diz - ah sim é muito bom ja estava na hora de pucar uma cobertinha é bem bom
ficar entocado
K diz - olha, tava costurando alguma resposta
Z diz - oie o que..
K diz - sobre as paralelas, e etc e tal
Z diz - ah ah  sim me inspirei doidamente em cima das tuas observações
K diz - hahahaha, filosfia...
K diz - filosofia nos insstiga sempre
K diz - instiga
Z diz - afinal com tanta, tese, antitese, sintese, e por ai afora, para não ficar só no parlatório me veio de apontar palavras , levar o verbo e deixar a oração correr rumo ao infinito..

Em resposta ao must de alçar altos vôos, sem ser abatida, te respondi:

K diz - Muitas vezes fui abatida, algumas outras ainda, a única corda em que me sustentava e que me suspendia rompeu-se sobre o penhasco. Aprendi no entanto a juntar os pedaços e a me reunificar, sempre na esperança do amor, pra mim bem maior de todos. Dizem que amar é dar-se. Se não nos apropriarmos de nós mesmos e não nos pertencermos, com tudo que nos dá forma, bom ou ruim,
K diz - não haverá o que nem como dar-se, e  o vazio nos fará fantasmas, mortos-vivos. Aprendi a duras penas a cicatrizar, costurando uma nova criatura, a cada queda. E me orgulho muito de mim mesma, por isto. Não reclamo minha sorte, mas tenho gratidão ao meu Criador, que escreveu a minha história, pra mim, a mais linda de todas. Quanto às paralelas, acho que o amor é sempre uma cruz, mas não só de prego
K - diz - e espinhos. É o cruzamento da dimensão humana com a divina, símbolo cristão. A perpendicular divina "X" cruzando a horizontal humana "Y", pelo que entendi pensares o mesmo. Ou ao contrario, não sei muito de matemática.
K diz - Quando o momento mágico de um encontro único acontece, não são paralelas que nunca se encontram, mas dimensões cruzadas que se unificam pelo milagre da união de dois pontos, que sem a referências do mundo concreto se fundem, e já não mais se definem divino ou humano
Z diz - Desta forma, como respondeste, conseguiste a menção honrosa de partiicipar das metaforas para chegarmos acredito que as mesmas conclusões. Tardes frias, noites geladas, tempo chuvoso, ventos soprando resta o aconchego de corpos para fundir emoções. vai me deicar louco
K diz - uhuuuu!
Z diz - digo seixar.
Z diz - deixar
K diz - sim sim sim! (quem sabe enlouquecendo um pouco, chegarias mais perto?)
Z diz - sabes vi as tuas composições fotograficas estão belissimas
K diz - hum  as de hj? no fACE?
Z diz - aCONTECE QUE SÓ ENTREI MESMO  A VALER AGORA A NOITE SÓ NO FACE PARA ACERTAR toido o meu cadastro que estava uma bagunça, em termos de acessos, bloqueios, etc... isto me consumiu umas boas 3 horas ou pouco mais
K diz - putz! nao sabia que tinha isto no face
Z diz - Na real quando passava por algumas paginas, vi as fotos das sapatilhas
K diz - Hummm
Z diz - Bueno, tô podre de cansado. Vou dormir. Té a próxima...
K diz - té...

Passaram alguns dias...

Depois troquei a mensagem na janelinha do compartilhar, no MSN. Peguei uma estrofe de um poema meu:


Substância

"Sou um corpo de luz sólida.
Chama inteira, labaredas em janelas,
Células, libélula, gavinha.
Poros de um sopro, celas de alguns sonhos,
favos do teu mel, casulos do teu cetim
em mim.


Ao que de pronto, noutro dia, respondeste, com o poema belíssimo da Bruna Lombardi, direto para mim, no MSN, em off:

ELOGIO DO PECADO

Ela é uma mulher que goza

celestial sublime
isso a torna perigosa
e você não pode nada contra o crime
dela ser uma mulher que goza

você pode persegui-la, ameaçá-la
tachá-la, matá-la se quiser
retalhar seu corpo, deixá-lo exposto
pra servir de exemplo.
É inútil.
Ela agora pode resistir
ao mais feroz dos tempos
à ira, ao pior julgamento
repara, ela renasce e brota
nova rosa

Atravessou a história
foi queimada viva, acusada
desceu ao fundo dos infernos
e já não teme nada
retorna inteira, maior, mais larga
absolutamente poderosa

Z parece estar off line. Você pode enviar uma mensagem instatânea para ele. Te respondi, então, extremamente emocionada pela tua sensibilidade:

K diz - Wou! Wou! Wou! Digno de um Z!

Mas mais dias se passaram, no teu silêncio e afastamento, incompreensíveis, para mim. Será que ele tem outra? Estará se correspondendo com várias, ao mesmo tempo? Viverá ainda com a ex-mulher, por isto queria manter-se morando em casas separadas?

Aquela poesia foi linda demais, forte demais, significativa demais. Não se mexe assim com os sentimentos de uma mulher impunemente. Tornou-se insuportável para mim manter as coisas do mesmo modo, indefinidamente. Depois de tanta beleza, o único meio que me deixaste pra gozar, foi da minha cara no espelho!

Epílogo

Precisava te falar mais um tanto, e depois disto...silêncio! Prometo!

Desconecto meu note desta wibe, conecto no face. Mas, confesso, espio tua página, pelos amigos dos amigos, ainda. Mesmo tendo te excluído dos amigos. Muito mais não queria que me viste, soubesses dos meus passos e atividades, do que eu fazer tudo isto. Mas fui radical. E o ruim de ser assim é que fica difícil de voltar, se arrepender, mudar.

Só queria muito que soubesses que este meu destrambelhamento foi inteiramente conseqüência de necessidades minhas, que talvez por desligamento teu, também contribuíste.  Tá que podem ser necessidades geradas de coisas mal deglutidas ao longo de uma vida. Mas isto não importa. Talvez estejas isento de qualquer responsabilidade.
Mas ainda tenho dúvidas... Terei sido tão ingênua? Terás sido soberbo? Teremos sido descuidados um com o outro? Faltou respeito? Sintonia? Ou nada disto...

Fui muitas vezes incoerente, invasiva, chiclete, sem noção, até mesmo loucaaaa! Problema nenhum, se o fosse cá com meus botões. Daí? Quem não o é, vezes sem conta na vida? A questão é que o outro não merece isto, nem mesmo virtualmente. E olha que odeeeeeio isto, quando de alguém para mim mesma. Nem tiveste a chance de te mostrar um pouco mais, pra eu ver se merecias ou não. Então, a questão é a seguinte - dois pontos

Quero mais uma chance,  no mínimo pra dizer isto pra ti, mesmo que nem acesses meu link, de tão enjoado que podes ter ficado. Preciso, pelo menos, despertar minha desagonia, desafogar minha agonia, fechar uma coisa que ficou mal fechada, pra mim. Seria um bem teu, feito à humanidade, ler. Um ato beneficente... Que te parece? Não suporto ver gavetas abertas, portas de armários escancaradas, portões entreabertos. Sou bíblica nisto, sim-sim, não-não, coisa morna é cuspida.

Entretanto, brincadeiras à parte,  se fosse só pra meu benefício, talvez tivesse a decência e sinceridade de deixar assim, mal acabado mesmo. Ou não. Porque talvez a razão (ou o golpe de misericórdia do meu ID sobre meu superego) de encontrar outra razão pra voltar a falar contigo, sem me sentir muuuito pequena, tenha sido o sopro que moveu minha coragem de fazê-lo.

E a razão de ir a ti novamente, depois de reconhecer as cacacas, ou mesmo coisas preciosas e raras que possam ter acontecido neste laço tão tênue que estabelecemos, mesmo no  meu desiquilíbrio de momento, na urgência, é que acho que mereces, sejas como for, minha gratidão. Mereces saber que me foste muito útil, importante, pra fazer esta travessia de "estado civil".

Como te falei no começo (no princípio era o verbo), meus anos de sozinhez e talvez de solidão sim, junto com um passado nem sempre confortante, tenham jorrado sem freio diante de uma porta aberta. Muito por isto quem sabe vem este desassossego por me ver diante de portas abertas... medo de me esvair. De muda e silenciosa por anos escuros e anaeróbicos, passei a comunicante, esvoaçante, liberta, sei lá, o que quer que seja, mas me lançando completamente noutra direção que sopravam meus ventos. E o verbo se fez carne...ainda que em termos Orwellianos, "sabor carne".

Verbo este soprado sobre outro, que mesmo a conta-gotas, respondia. É muuuito bom saber que se está sendo ouvido e compreendido. Nos confirma, na nossa identidade. Não existe eu-sem-outro. Nível intelectual? Talvez, mas pra mim, muito mais coração.

De qualquer forma, quero pedir desculpa. Por toda a ventania. Acho que já deves ser prevenido, e tener las ventanas bien cerradas o suficiente pra te proteger. Mesmo assim desculpa, se desgrenhei teus cabelos grisalhos ondulados e lindos, pelas únicas frestas que te deixei entreabrir.

Navegar na Internet é coisa nova pra minha geração. Pertinente a música interpretada por Paula Fernandes -"É preciso navegar em mim". Antes eu navegava direto nos olhos, no corpo, na voz, e sempre fui muuuuito bem vinda, e  coerente, e sábia... pelo menos  assim me parecia. Pelo menos, mais segura. A liquidez deste mundo novo-versátil-extremista-fascinante-louco assusta qualquer um com mais de 30 anos...

Porque atrás do novo sempre se esconde o medo límbico, histórico, ancestral. Além do que, esta coisa de mundo líquido carrega o medo, mas também o risco real de se afogar, se não souber nadar. Vai daí que estou aprendendo. Graças a Deus, és da minha geração, e também algum medo deve te fazer sombra, nem que seja bem no fundinho...Se assim for, talvez possas me compreender e guardar de mim melhor imagem.

Acredito que, nisto tudo, aprendi um pouco a manobrar este dirigível heliocêntrico pós-moderno, Zepelim volátil que é o veículo virtual. Mesmo que a velha carta do correio já fosse virtualidade, ainda nos restava o papel escrito na mão, as florezinhas, o perfume, ou simplesmente saber que tinha estado nas mãos de quem o escrevera, concretamente. Isto dava solidez às palavras e aos sentimentos que elas transportavam. Não caíam num vazio tão abissal, como tantas vezes isto acontece diante de um computador.  Silenciosas, e frias, num legítimo hardware , jeito difícil ou pesado de ser, como simples mortais do século passado. Do milênio passado, pra ser mais exata.

Aprendi a duras penas, me expondo, a contra gosto meu, mas bem ao gosto Big Brother de ser, que se entranha sem pudor nos nossos hábitos. E dilacera nossos valores. Mas aprendi ainda pelo velho sistema de aprendizado - por tentativa de erro e acerto, ainda de qualquer modo, o mais seguro ainda, já conhecido.

Ah, e já não me importo agora tanto, se as portas, janelas ou gavetas estão abertas, fechadas, ou entreabertas. Basta que não desaprenda de bater à porta, escute quando batem, e saiba abrir por dentro o que nunca poderá ser aberto por fora, e a fechar quando isto parecer ameaça, virtual ou não.

Bjuuuuu

K