sexta-feira, 6 de abril de 2012

Sobre o tempo que passa e não passa...














soneteare.blogspot.com

O tempo físico se mede com o relógio, com o sol que nasce e se põe todos os dias, com as estações que transcorrem, o nascimento, a morte, o fim e o começo dos acontecimentos todos. Mas o tempo psicológico é subjetivo. Alguns instantes duram séculos, alguns séculos se diluem no pó e no esquecimento.

Lembro de uma vez  que viajei de noite, toda a madrugada, para Floripa. Estava indo encontrar o meu amor, paixão fulminante entre primos irmãos que se conheceram e se encontraram depois de adultos. Como toda paixão, enchia todos os meus espaços, cada poro era inebriado e cheio do meu amado. Eu tinha me mudado de mim mesma para ele, e tinha então 35 anos.

Entretanto... aconteceu que o ar condicionado do ônibus estava muito gelado, era verão, eu estava com uma blusa de alcinhas, sentada do lado da janela e esquecera de levar um casaco. Eis que, sentado ao meu lado, estava um rapaz, com uma jaqueta de jeans sobre os ombros. Tinha um bom porte, mas naquele tempo não se falava nem se pensava em “sarado”. Entretanto, eu, com aquela visão enviesada que a gente tem nas laterais de si mesmo, analisei seu perfil. Meio magro, porte médio, tinha um jeito descolado (expressão também não nascida ainda)  que pelo meu entendimento significava equilibrado, mas livre de amarras. Algo me atraía nele, e o frio que aumentava dava vontade de me acolher debaixo do seu braço, encostar a cabeça e um pouco mais do corpo, no calor do corpo dele. Foi como se uma fumaça, um vapor morno tivesse invadido meus neurônios, e, rapidamente, sido soprado fora, varrido, como um “vai-te Satanás!” Tinha compromisso com minha paixão.

O silêncio se espalhou sobre o interior do ônibus, todos adormeciam. As pequenas luzes de leitura se apagaram, uma a uma. Escuro. O ronronar do motor e o balanço de pequenas curvas na estrada me ninavam. Daí há pouco, o rapaz inclinou-se para o meu lado, sutil e delicadamente. Estendeu seu braço sobre meus ombros, e eu me aconcheguei à quentura gostosa de seu corpo. Ele fechou o círculo do seu abraço sobre mim, com o outro braço. E adormeci aquecida e acolhida, até a alma.

De manhãzinha cedo, chegamos ao destino. Nos recompusemos, desamassando cabelos e roupas. Pegamos nossas sacolas e descemos. Na plataforma da estação, ficamos frente à frente um do outro. Ele me olhou fundo nos olhos e eu a ele. Trocamos um selinho, que ainda não se chamava assim. Fluía entre nós uma energia de séculos de aconchego. Era uma linguagem direta, falando de amor eterno. Sem compromisso, sem cobrança, sem futuro, nem passado, sem palavras.  Pode se medir a duração de um amor gratuito? Ele tomou seu rumo e eu o meu. Já lá se vão quase 30 anos e eu nunca esqueci esta aventura.

4 comentários:

  1. Lindo. O mais lindo dos que li até agora. Percebi verdades no seu conteúdo, não frutos da imaginação, foi real! Acharia belo mesmo que tivesse sido fictício. Simplesmente uma beleza!... Expressado em gestos movidos pela necessidade de calor humano devido o frio na ocasião, tudo contribuindo para uma atração natural que move as pessoas em lugares ou momentos, inesperadamente. Mas percebi naquilo que você diz "aventura" um impulso de aproximação telepático rsrs cuja iniciativa partiu do outro, e você se entregou por algumas horas pelo estímulo. Enfim um quase amor de .....viagem. O mundo gira!!!!

    Beijos!

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  2. Bem isto, prima! Que bom compartilhar tua sensibilidade e inteligência...captou tuuuudo! bju

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  3. Lindo amiga,principalmente porque participei deste momento mágico da tua vida. Nunca esquecerei os conselhos que você e o Luis deram-me naquele paraíso chamado Matadeiro...estou com o Nei a 25 anos,graças muito aos conselhos de vocês...nada na vida é por acaso..acredito que amigos são como anjos que Deus coloca em nossas vidas para torná-la mais fácil, TE AMO D+ (por: Vera Regina Souza da Silva)

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  4. Oi, Veruska linda!
    Nunca vou esquecer das "aventuras" vividas deste tempo que convivíamos, unha e carne...mas as unhas eram curtas, nunca nos arranhamos!
    Uma amizade verdadeira é assim, imune ao tempo e ao espaço. Pra mim, o sentimento permaneceu intacto, mesmo depois de tantos anos sem nos vermos. Também te amo D+. Bjuuu

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