sexta-feira, 6 de abril de 2012

O fantasma do Brechó



 Me desculpem os corajosos, mas medo é fundamental (parafraseando Vinícius). 

 Respeito os que gostam, compram, usam roupas do brechó. Até admiro. Mas cá entre nós, me dá um arrepiozinho na espinha, meio mórbido, só de me imaginar com uma roupa de brechó. Quem terá usado esta roupa? Viverá ainda, estará morto? Quantas lágrimas terá derramado? Quantos delitos praticado? Seria um psicopata? Teria uma doença contagiosa? Seria desapegado aos bens materiais? De bem com a vida, bem humorado, descolado? Fico pensando como me sinto ao imaginar alguém usando uma roupa que foi minha, porque faço doações à troca de cada estação. Tem um pouco de mim naqueles fios tramados que me cobriram e me deram parte da minha identidade por um tempo. É como diluir-se um pouco no anonimato, na humildade da carência. É me sentir um pouco parte de um lado paralelo que se perdeu nos meus passos. Falando nisto, lembro do pedaço de uma música de Bob Dylan, com versão da letra de autoria e interpretação de Zé Ramalho, em seu último DVD (que já escutei trocentas vezes, e não consigo enjoar): NEGRO AMOR - Lindaaa! “um vagabundo esmola pela rua, vestindo a mesma roupa que foi sua...” (vou adicionar o link da música depois) Frente a tantas perguntas e reflexões, vem-me uma constatação irrefutável: lembro das roupas mal secas, nas pequenas áreas dos “apertamentos”. Ficam fedorentas, um cheiro insuportável. Vai daí que penso de onde vem este mau cheiro. DOS RESÍDUOS! Mau cheiro provém sempre de bactérias se alimentando e se proliferando fartamente de resíduos, macro ou micro. Por isso, meus arrepios incontroláveis só de pensar numa roupa usada por quem não conheço. Por mais que se lave, nunca uma roupa fica completamente imune dos resíduos. Simplesmente, com sol e ferro quente, eles ficam estabilizados, e não exalam odor. Só se revela quando o tempo de umidade se prolonga, dando vida aos micro organismos que se proliferam nestes resíduos: de sabão e da PELE (valha-me!) da pessoa que usou estas roupas. Isto sem falar nas energias etéreas que acredito/desacredito. Sempre imagino, quando olho os brechós (um tanto poeirentos, obscuros e misteriosos, onde sempre me vejo profanando um lugar sagrado, se pisar lá): - Vai que eu uso a roupa de um morto, e ele queira tomar posse de seus resíduos, para viver de novo? Se isto acontece, ele não vai querer morar comigo? Melhor não arriscar... http://www.youtube.com/watch?v=4ieb-nZbyn8&feature=colike (link do Zé Ramalho cantando Bob Dylan)

Um comentário:

  1. Esta e a minha amiga,quanta imaginaçao...as roupas das lojas tambem estao contaminadas,amiga.Maos que pegam para examinar,corpos suados que experimentam.poeira de prateleiras .Olhar de inveja de balconista que nao pode ter...e por ai vai.Tu e muito inteligente pra ser superticiosa.

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