quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Tecnopólio - a invasão do computador


Considerações sobre a imposição ideológica do computador - texto produzido parte por condensação de parágrafos e parte por desenvolvimento próprio, na leitura do livro "Tecnopólio", de Neil Postman

O computador usurpou poderes e forçou a imposição de disposições de espírito que uma cultura totalmente atenta gostaria de rejeitar. A universalidade do computador torna seu uso infinitamente variado. Em geral os computadores estão integrados na estrutura de outras máquinas. Todo o mundo usa os computadores ou é usado por eles, e para propósitos que parecem não conhecer fronteiras. Pondo de lado funções comuns como arquivamento e processamento de texto, têm-se uma lista fascinante de usos até bizarros do computador. Computador, sem nenhum prefixo antes, é o criado por John Von Neumann, na década de 40. Antes disto computador era uma pessoa que computava, fazia cálculos.
O computador define nossa era ao sugerir uma nova relação com a informação, com o trabalho, com o poder e com a própria natureza. O computador redefine os humanos como “processadores de informação” e a própria natureza como informação a ser processada. Nós somos máquinas pensantes, e por isto o computador é a quintessência da máquina no Tecnopólio – incomparável e quase perfeita. O computador exige soberania sobre todo o âmbito da experiência humana e sustenta essa exigência demonstrando que “pensa” melhor do que nós. As máquinas têm opiniões, num novo sentido, rejeitando a idéia de que os humanos têm uma estrutura interna alicerçando opiniões. Opinião significa tudo aquilo que alguém ou alguma coisa faz. Essa observação rejeita que a mente é um fenômeno biológico. Os seres humanos são, em certos aspectos, como as máquinas, pouco mais que máquinas, e por fim são máquinas apenas. Daí a passar para a idéia de que as máquinas podem ser humanas... A inteligência artificial deduziu daí que pode copiar a inteligência humana. Uma inteligência artificial não pode levar a uma criatura que tem significado, compreensão e sentimento, o que o ser humano é. A idéia de que as máquinas podem ser como os humanos trouxe os termos “vírus”, “infectar”, “quarentena”, “esterilizar” as redes, “vacina”, de tal modo que os computadores pudessem ser “inoculados” contra novos ataques. O tecnopólio encoraja a insensibilidade às habilidades perdidas com a aquisição de outras. É importante o que pode ser feito sem computadores, e também é importante que nos lembremos do que se pode perder quando os usamos. Sabemos que os médicos que confiam inteiramente na maquinaria perderam a capacidade de fazer diagnósticos baseados na observação e no relato do paciente. Podemos muito bem perguntar que outras habilidades humanas e tradições estão sendo perdidas com nossa imersão na cultura do computador.

Os cidadãos da tecnocracia, antecedente ao Tecnopólio,  sabiam que a ciência e a tecnologia não produziam filosofias com as quais pudessem viver, e agarravam-se às filosofias de seus pais. Em suma, duas idéias distintas e opostas de mundo se chocavam nos EEUU no século XIX:  a tecnológica e a tradicional. Com a ascensão do tecnopólio desaparece a idéia tradicional de mundo.. O tecnopólio elimina alternativas para si, tornando-as invisíveis, e por conseguinte, irrelevantes, redefinindo o que entendemos por religião, família, política, história, verdade, privacidade, inteligência, de tal modo que nossas definições se adaptem às suas novas exigências. O tecnopólio é a tecnocracia totalitária. A AIDS do mundo contemporâneo. Não se tem ao certo o seu início, mas supõe-se ter sido com o surgimento do império Ford, ou talvez  em 1910, com o surgimento da gerência científica, de Taylor, com a filosofia do “ aumentando os lucros com o aumento da eficiência” e suas idéias continuam a ser os alicerces do tecnopólio americano dos dias de hoje. O livro de Taylor “Princípios de Administração Científica” de 1911, contém o primeiro esboço explícito  e formal das suposições da idéia de mundo do tecnopólio. Velhas certezas foram sendo demolidas: O behaviorismo demonstra que o livre-arbítrio é uma ilusão, e que nosso comportamento afinal não é diferente dos pombos. Einstein e seus colegas disseram que não havia nenhum meio absoluto  para julgar algo em algum caso, que tudo era relaativo. Em meio a escombros conceituais, restou uma coisa segura na qual acreditar – a tecnologia: os aviões voam, os antibióticos curam, os rádios falam, e, como sabemos agora, os computadores calculam e nunca cometem erros – somente os humanos defeituosos erram.

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